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"UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS"

Monteiro Lobato

domingo, 15 de abril de 2012

O APRESSAMENTO COGNITIVO

      A criança tem o momento certo para iniciar sua aprendizagem formal, que depende de fatores fisiológicos, ambientais, emocionais e intelectuais. No aspecto intelectual, Piaget (1978) a situa na fase sensório-concreta, que é quando ela apresenta certa maturidade em seu desenvolvimento motor e psíquico, conseguindo pensar e raciocinar abstratamente.

      No entanto, nem todas as crianças amadurecem de acordo com sua idade cronológica, por isso, usar apenas o critério idade para introduzir a criança no processo de ensino é incorrer num sério problema, pois essa variável não garante o sucesso do aluno em relação às metas visadas pelos programas escolares. Poppovic (1972) indica que se deve adotar o critério “idade mental” ao se falar em idade de início de alfabetização, que engloba a potencialidade de cada criança, a motivação para aprender, o grau de estimulação das habilidades básicas necessárias à alfabetização e as experiências adquiridas pela criança na interação com o seu meio ambiente.

      Iniciar a alfabetização sem dados concretos sobre a maturidade, ou antes, que a criança esteja pronta e preparada para tal, é incorrer num grande risco, pois poderá acarretar dificuldades intransponíveis logo no início do processo de aprendizagem.Entretanto certos pais e mesmo certos professores, ao perceberem a facilidade que a criança apresenta em aprender, tendem a apressar sua aprendizagem, sem atentar para a falta de maturidade em todos os conceitos antes mencionados. É fato que essa criança aprenderá, mas também é fato que ela poderá apresentar problemas em algumas áreas da aprendizagem e até mesmo na coordenação motora. Embora encontremos na família o ambiente mais importante no desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida, onde ela aprende a brincar, a se relacionar, é também nesse ambiente que pode acontecer a indiferença dos pais quanto à aprendizagem, o que diminuía a autoestima da criança, desmotivando-a.

      A escola é tão ou mais responsável pelo apressamento da aprendizagem quanto os pais da criança. Compreende-se que a vida apressada e inquieta dos dias atuais torna a escola uma necessidade. Esta, por seu turno, deve estar preparada para receber todos os tipos de crianças, das mais desenvolvidas às menos desenvolvidas, entretanto, é na escola, muitas vezes, que encontramos o próprio obstáculo à aprendizagem, devido ineficácia das práticas, burocracia das práticas, burocracia pedagógica e inadequação dos cursos de formação de professores.

     Os problemas de ordem cognitiva, chamados de transtornos de aprendizagem, apresentam-se relacionados principalmente com a aprendizagem da leitura/escrita e da matemática. Ainda um problema que o apressamento traz para a criança é a falta de concentração, que implica numa dinâmica física, mental e emocional. A individualização perfaz outro problema do apressamento da aprendizagem.

       Deve-se lembrar que, o processo ensino-aprendizagem é mediado pelo professor, na escola, e pelos pais, em casa. A criança que não tem todos os pré-requisitos para a situação escolar será incapaz de assumir responsabilidades pela sua vida de estudante e até mesmo de sua autoexpressão. Fica parecendo com bolas de pingue-pongue, ora fazendo o que os pais mandam, ora o que o professor manda, sem saber exatamente o que deve ser feito. Essa situação poderá afetar a formação da sua personalidade, tornando-se uma pessoa dependente, tímida e sem vontade própria, prejudicando todo o seu futuro. Como diz Vayer (1982), a educação deve ter em conta a realidade individual do aluno. Assim, se ele não corresponder ao ensino, é porque sua maturidade ainda é insuficiente. Um último problema pode ser apontado pelo apressamento da aprendizagem — a interação social, pois de acordo com Piaget e Vysgosky, a interação social também é fator de desenvolvimento cognitivo, porque produz intercâmbio de ideias entre as pessoas. Crianças costumam inteirar-se com os seus iguais e um fator importante nessa igualdade é a idade.

      Enfim, a aprendizagem é um processo natural do ser humano, mas o apressamento da aprendizagem formal não lhe traz benefícios porque, segundo Picq e Vayer (1988, p. 35-6), toda atividade exige três etapas funcionais ligadas entre si e dependentes umas das outras: “o PODER que corresponde à integridade dos órgãos motores, o SABER, que corresponde às coordenações das diversas sensibilidades permitindo a passagem ao plano psíquico, o QUERER que corresponde à consciência”. Quer dizer, não adianta pais e professores terem poder de decisão sobre o indivíduo se não houver integridade entre os seus próprios órgãos para o seu desenvolvimento integral; também de nada adiantará aos pais e professores decidirem que a criança está pronta para enfrentar o cotidiano da sala de aula se ela mesma, em sua globalidade, não estiver consciente disso. O seu próprio corpo dará um jeito de não querer esse desenvolvimento.Pode-se inferir que interromper o seu processo natural de desenvolvimento da criança, pode-se estar retardando a aquisição dos seus conhecimentos escolares, ocasionando um processo contrário que é o apressamento cognitivo. A presença do psicopedagogo no acompanhamento de crianças que apresentam algum problema de aprendizagem torna-se importante, na medida em que ele pode fazer um diagnóstico precoce e reconduzi-las ao seu desenvolvimento natural.



Referencias Bibliográficas

PIAGET, Jean. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

POPPOVIC, A. M. Alfabetização: um problema interdisciplinar. São Paulo: Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, 1972.

VAYER, P. e PICQ, L. Educação psicomotora e retardo mental. 4.ed. São Paulo:Manole, 1988

Site: www.ucamprominas.com.br, acesso em 15/04/12.



Créditos: Instituto Prominas. Texto retirado da apostila “Neurociência e Aprendizagem”, como parte integrante do curso de pós graduação em Ludopedagogia e Educação Infantil.



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